quinta-feira, 19 de abril de 2007

Entenda como tudo aconteceu

Ivan Padilla e Fábio Altman

Edição 247 - 07/02/2003




Em 22 de fevereiro de 1999, às 7 horas da manhã, os calouros assistiram à aula inaugural no teatro da faculdade. Após as palestras do diretor e de representantes da Associação Atlética e do Centro Acadêmico, foram avisados de que não precisariam participar do trote caso não desejassem.
Quase todos aderiram ao ritual. Depois de deixar pertences pessoais como relógios, carteiras e camisetas em sacos plásticos, os estudantes tiveram os pulsos amarrados com barbantes. Bombardeados por ovos, tinta, farinha e violeta genciana, um corante usado em pesquisas de bactérias, seguiram até o busto de Arnaldo Vieira de Carvalho, primeiro diretor e patrono da faculdade, onde cantaram hinos, fizeram reverências e beijaram o chão.



Abusos durante o trajeto foram relatados. Uma das brincadeiras impostas simulava uma partida de boliche. Um calouro, geralmente mais obeso, era a bola e os demais as garrafas. O aluno-bola era obrigado a rolar em direção aos pinos e derrubá-los. Alguns estudantes tiveram o braço engessado com o de um colega. Outros tiveram de fingir praticar sexo com uma árvore. Nas imagens das fitas de vídeo anexadas ao processo, calouros aparecem sendo chutados.


Depois das brincadeiras, os estudantes caminharam até a Associação Atlética. No bosque, foram lavados - os calouros pelas veteranas, as calouras pelos veteranos. Seguiram então até a arquibancada em frente à piscina. Enfileirados, acompanhados pelo som de uma bateria, entoaram alguns hinos. Garrafas de pinga lhes eram oferecidas - muitas vezes com insistência.


Ao ouvir gritos de ordem, caíram na água. Dois calouros relatam que, devido ao grande número de pessoas, aqueles que estavam na frente eram empurrados. Um estudante contou ter sido efetivamente jogado na água.
Ao tentar segurar na borda, apanhou com uma baqueta na cabeça. Chamado a depor novamente no ano passado, como testemunha de acusação, o aluno negou a versão. Disse não se lembrar de ter sido empurrado na piscina.


Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG55523-5990-247,00.html


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