quinta-feira, 19 de abril de 2007

"Que médicos eles serão?"

Revista Época entrevista Eliana Passarelli (em pé), a Promotora do caso insiste na tese do assassinato

As promotoras Eliana Passarelli e Maria Amélia Nardy Pereira, ambas do V Tribunal do Júri de São Paulo, foram designadas pelo Ministério Público para acompanhar o caso da morte do calouro Edison Tsung Chi Hsueh. Para Eliana Passarelli, o laudo do IML mostra que o estudante foi vítima de um trote assassino.

Época
: O que leva a senhora a crer que Edison Tsung Chi Hsueh foi assassinado?
Eliana Passarelli: Ele não sabia nadar. Portanto, é loucura imaginá-lo se atirando espontaneamente na água. O laudo do IML constatou que o estudante se debateu durante alguns minutos. Está claro que foi forçado a cair na piscina. Tivemos a informação, ainda, de que alguém teria telefonado para a Associação Atlética, onde fica a piscina, na madrugada do crime. Por que ligaria? Certamente por saber que o corpo jazia na água.

Época
: Está descartada a hipótese da ocorrência de um mero acidente, sem testemunhas oculares?
Eliana: Não podemos descartar nada. Mas seguramente alguém teria visto o estudante se debatendo na água e o ajudaria. O laudo indica que ele morreu entre 12h e 16h, quando a grande maioria dos alunos ainda estava ao redor da piscina. Que futuros médicos serão esses que não percebem que uma pessoa está morrendo afogada? Pior: se perceberam, como confiar, no futuro, em profissionais que não deram o devido socorro a alguém sob risco de vida? Ora, serão médicos...

Época
: Até agora, os estudantes têm afirmado em seus depoimentos que nada viram. Como será possível identificar os responsáveis pela morte?
Eliana: O advogado contratado pelos calouros, Guilherme Battochio, orientou-os para nada dizer. Eles passam pelo escritório do advogado antes de ir à polícia. É por isso que os depoimentos têm sido tão iguais e vazios. Evidentemente, não podemos processar todos os mais de 100 estudantes que estavam no clube, até porque grande parte deles realmente não percebeu nada. Mas precisamos tentar nos aproximar do grupo que esteve próximo de Edison Hsueh antes de sua queda na piscina.

Época
: Se as investigações apontarem alguns nomes, em que tipo de crime poderão ser enquadrados?
Eliana: Homicídio doloso eventual. Ou seja: eles sabiam, nitidamente, que havia o risco de produzir um resultado trágico. É diferente do homicídio culposo, em que não existe a intenção de matar ou ferir. Não estou dizendo que se trata de assassinos que desejavam matar, mas o trote violento traz esse risco.

Época
: Por que a senhora tem reiterado que os estudantes estão escondendo algo?
Eliana: A reação de todos eles é corporativa. Agem assim por medo, legítimo, mas também para não manchar a imagem da faculdade. Precisam ter em mente que, se o caso não for solucionado, uma mancha atrapalhará o futuro profissional da turma de alunos que entrou na faculdade em 1999. No futuro, se eu fosse eventualmente atendida por um desses médicos, teria medo. Cuidado: eles podem te matar.

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